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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nosso
s túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. 
( Carlos Drummond de Andrade )

 Considerações sobre o poema

 O medo da vida é o que conduz a poética, pois, agora, o poeta diz: “cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte/depois morreremos de medo”, não o sentimento da morte que aflige o poeta, nem tão pouco o sentimento de morte que o move, e sim, a ideia da vida que continua o seu percurso normal das coisas. Em Congresso internacional do medo, o poeta declara que “provisoriamente não cantaremos o amor/que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos”. O amor não faz parte do mundo presente, pois a linguagem que prevalece é a do medo, por isso, percebemos o exílio desse sentimento que existe, mas não se faz presente e, está abaixo do subterrâneo. Logo adiante o poeta continua a declarar:  “Cantaremos o medo, que esteriliza os braços/não cantaremos o ódio porque esse não existe”. Até o “ódio” não é suficiente para mover a indignação do sujeito, que vive esmagado pelo sentimento de medo, pois somente o medo tem o poder de paralisar os “braços”, o corpo, a vida. O medo tornou-se “pai” e “companheiro” na árdua tarefa de prosseguir o sentido da existência:

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